quinta-feira, 15 de setembro de 2016

salário emocional



houve um tempo na publicidade que não se falava de salário emocional. claro havia salários de verdade - e publicitários idem.

mesmo que você não fosse do primeiro time, que julgo ser o meu caso, ainda que estivesse no primeiro time do banco, ganhava-se o suficiente para o que se espera necessário a um publicitário: não ter as contas no no fim do mês no vermelho - hoje já se começa o mês no vermelho; pudera! com o salário que ganham - e o tal suficiente para comprar uns livros, discos, frequentar espetáculos de arte, dar umas viajadas naqueles lugares que te possibilitam apreender cultura por osmose(principalmente cultura de direção de arte - algumas ruas de barcelona, por exemplo, que não sejam as ramblas, ou o quartier latin, ou ainda depois de fuçar berlin oriental e com uns trocos ainda flanar por montenegro.

se você sentiu falta na listagem de roupas de griffe, apartamentos com arquitetura de griffe, cannes e carros ou motos, vou dizer que você merece o tal salário que ganha, ou melhor não ganha.

mas vá lá, ter no ambiente de trabalho um benício, que com um psiu! com aquele sotaque e sorriso maroto, em menos de cinco minutos, depois de nos dizer senta ai, nos presentear com os eflúvios do seu traço, não é pra qualquer um. só mesmo para o erasmo carlos*(e muito bem pago). poderia, com certa licença, chamar isto de salário emocional, não fosse já emocionante estar na atividade num tempo em que ser publicitário decididamente valia a pena: pelo salário, sim senhor, mas sobretudo pelo trabalho, fosse qual fosse o ambiente, que filhas da puta antes, e de agora, se equivalem, menos, talvez, nos salários.

e assim lá nave vá. numa época que anúncios de emprego para publicitários acenam com vale-transporte, ticket-refeição, e até plano de saúde(ninguém ganha mais o suficiente sequer para pagar uma clínica popular?)leio um copy que tresanda oferecimentos e exigências do tipo "gogojob" ("requisitos:
amar a profissão, ser assíduo com os prazos, ter capacidade de organização, assumir responsabilidades sem medo de ser feliz, e claro, brainstorm na veia")(sim, isto é para diretor de arte sênior), com salários que muitas e muitas vezes não chegam aos 1.000 reais,o que me faz crer que: pior do que cair em desgraça é ter a graça de montar em tal desgraça.

quanto a mim, corroboro que era desgraçadamente feliz por ser bem pago; e por ter na agência(artplan)um gênio como o benício, coisa que a geração de uns tempos pra cá jamais poderá saber o quão valioso - e insubstituível - isto é.

pobres diabos, a pedir tickets emprestados a faxineira apesar, dos seus i-pods e i-phones. well, isto também não deixa de ser, hoje, um salário emocional para mim;)


a excelência de um trabalho que foi chupado na alemanha*

uma das criações mais emblemáticas do benício, confirmando 
que erasmo, e não o roberto, é o cara

benício: a ilustração como linguagem que os robots não falam.
foto: carlos alves

*Foi resolvido o embate entre o ilustrador gaúcho José Luiz Benicio e o músico alemão Morlockk Dilemma, que fez uso de uma pintura do brasileiro em um disco seu. “Ele foi muito cara-de-pau, mudou apenas o rosto do Eramos”, diz Benicio, que teve o trabalho realizado para o álbum Amar pra Viver ou Morrer de Amor, do tremendão Erasmo Carlos, transplantado para a capa de Circus Maximus, de Dilemma. Apesar da evidência do plágio, e de a gravadora reconhecer o delito, a questão foi solucionada de maneira simples, com a saída da capa infratora de circulação.
“Eu poderia também ter pedido uma indenização, mas a gravadora é pequena e, apesar de eu ter tudo para ganhar a causa, achei que não valeria a pena contratar um advogado e desperdiçar tempo com isso”, afirma o ilustrador, que nunca havia enfrentado um caso de apropriação indébita de seu trabalho em 58 anos de carreira. “Se fosse uma companhia de primeira linha, eu iria em frente.”
Considerado um dos maiores ilustradores do país, Benicio, 74, é o nome por trás de 3.000 capas da editora Monterrey – de alguns dos melhores títulos da pulp fiction nacional – e dos cartazes de filmes da pornochanchada e dos Trapalhões, além de clássicos como Dona Flor e seus Dois Maridos. Uma seleção da sua obra foi publicada recentemente no livro Sex & Crime – The Book Cover Art of Benicio, da recém-criada Reference Press, editora que tem a proposta de publicar livros de arte e divulgar artistas brasileiros no exterior.
“Esta obra já me era cobrada há muito tempo. Acredito que tudo tem sua hora certa para acontecer. A minha foi agora”, diz Benicio. Segundo o ilustrador, a Reference Press possui também o plano de lançar uma seleta de seus cartazes de filme, com venda pela internet.
Em ambos os casos, cartazes de cinema e capas de livro, Benicio faz uso de fotos como referência para os desenhos – ter uma modelo em pessoa é fato raro e ele nunca conheceu, por exemplo, Sonia Braga, a Dona Flor dos cinemas –  e de guache como tinta(maria carolina maia, in veja)
** legenda do blog

















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